Quer saber quando faz sentido apostar em data lake e quando o data mesh destrava valor de verdade? A resposta curta: escolha o modelo pelo seu contexto organizacional — começando pelas pessoas e pelos domínios de negócio, não pela ferramenta.
Por que tantos lakes viram “pântanos” (e como evitar)
Por mais de uma década, os data lakes ajudaram empresas a baratear o armazenamento, consolidar dados e abrir espaço para analytics e ML. Só que, sem governança e priorização por domínio, muita gente acabou com data swamps: repositórios centrais cheios de dados difíceis de descobrir, acessar e usar, que criam gargalos e derrubam o ROI prometido.
A raiz do problema costuma estar na relação produtores x consumidores de dados. Times de produto priorizam features transacionais e entregam dados “como dá”; já o time central do lake corre atrás de múltiplas fontes, manutenção complexa e prioridades que mudam o tempo todo. O resultado é frustração e baixo alinhamento entre o que é produzido e o que o negócio realmente precisa analisar.
A proposta do Data Mesh: dados sob a ótica do domínio
O data mesh muda o centro de gravidade. Em vez de um time-proxy no meio, os próprios times de domínio (ex.: checkout do e-commerce, faturamento, marketing) passam a publicar e consumir dados como produtos: pacotes com o conjunto de dados, metadados, código de preparação, infraestrutura como código e configuração — tudo com dono, SLA e propósito claro para um consumidor real.
Esse modelo é distribuído e humano-centrado: aproxima o dado do contexto operacional, melhora qualidade e relevância e acelera o reuso com governança federada. Quando bem implementado, o mesh alinha dados e objetivos de negócio, reduzindo atritos na descoberta e no consumo.
Quem faz acontecer: novos papéis e responsabilidades
Dois papéis são críticos nesse desenho:
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Data Product Owner: perfil de negócios que domina o domínio (transacional e analítico), conversa com consumidores e define visão, estratégia e roadmap do produto de dados.
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Data Engineer: generalista de engenharia/dados com profundidade nas necessidades do domínio; constrói o produto e é a referência técnica entre times.
Onde eles ficam? Idealmente, dentro dos times produtores e consumidores. Quando isso não é possível, pode haver um time de mesh por domínio — menos recomendado por reintroduzir o “time-ponte”.
Plataforma de Data Mesh: o motor invisível
A plataforma de mesh não cria produtos de dados; ela habilita quem cria e consome. Seu papel é triplo:
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Fornecer ferramentas e infraestrutura (catálogo, controle de acesso, CI/CD, observabilidade, ambientes de dev/teste).
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Treinar, aconselhar e, quando necessário, reforçar capacidade de desenvolvimento.
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Moderar padrões e processos compartilhados em modelo federado.
Missão: tornar o trabalho simples, eficiente e sem fricção para produtores e consumidores.
Lake ou Mesh? Pense “e/ao invés de ou”
Não é uma guerra religiosa. Muitas organizações bem-sucedidas combinam um lake bem governado (camada de armazenamento/integração) com malhas por domínio publicando data products com contratos claros. O que define o desenho é a maturidade de dados, a autonomia dos times e prioridades de negócio.
Sinais de que você precisa evoluir seu modelo
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Seu lake está grande, caro e pouco usado.
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Times de negócio reclamam de fila para acessar dados ou esperam meses por uma view.
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Métricas de qualidade e accountability são difusas: ninguém “dono” do dado.
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Você quer escalar AI/ML por domínio, com cadência de releases de dados.
Como começar (sem travar o negócio)
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Mapeie domínios e consumidores reais: qual pergunta de negócio precisa de resposta?
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Escolha 1–2 produtos de dados piloto com alto impacto e donos claros.
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Padronize contratos de dados (esquema, SLOs de frescor/qualidade, linaje).
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Implemente controle de acesso e catálogo desde o dia zero.
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Crie uma guilda de dados (POs + Engenheiros + Segurança + Compliance) para decidir padrões mínimos.
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Invista em capacitação: alfabetização de dados, engenharia de dados, governança, MLOps.
Se a sua organização quer globalizar decisões com dados, crescer com propósito e usar certificações como estratégia de capacitação, este é o momento de definir sua arquitetura alvo — sem perder o foco no valor de negócio.
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Referência & crédito do conteúdo: adaptação em português do artigo “Data Lakes vs. Data Mesh: Navigating the Future of Organizational Data Strategies”, de Matthias Patzak (Enterprise Strategist na AWS; ex-Principal Advisor em AWS Solutions Architecture), no AWS Cloud Enterprise Strategy Blog.